“Preferia ser gorda.” Ouço isto tantas e tantas vezes no meu consultório, por parte de ex-obesos que agora se veem a braços com quilos e quilos de pele em excesso, pendurada, flácida e que, assim, veem a sua vida ainda mais limitada do que era antes. É uma realidade, infelizmente, e atinge muitos milhares de pessoas.
Sabia que, segundo a Fundação Portuguesa de Cardiologia, cerca de metade da população portuguesa tem excesso de peso? E perto de um milhão de adultos sofre mesmo de obesidade. É inquietante. É um problema tão grave e tão transversal a tantas sociedades que a Organização Mundial da Saúde já considera a obesidade uma epidemia. Há que travá-la, há que alertar para os perigos que podem advir de um cenário de excesso de peso, há que promover cada vez mais uma vida saudável e ativa. E nunca é demais lembrar e repetir, repetir, repetir. Porque, afinal, parece que continuamos a não conseguir travar a situação. Apesar da multiplicação de esforços das entidades responsáveis, que se desdobram em campanhas de alerta, apesar da moda da comida saudável e até da moda do running, que se pensou que viria mobilizar os portugueses, continuamos com índices de obesidade altos e o número de pessoas com excesso de peso no país é demasiado elevado.
Seja porque estamos tristes, ou porque estamos contentes, por genética, por um distúrbio, por nervosismo, por descontrolo. Na verdade, comemos por tudo e por nada, por escape, e muitas vezes sem noção do real impacto que isso vai ter na nossa vida a médio/longo prazo – na saúde, na vida familiar e amorosa, na vida profissional, na nossa imagem, na nossa autoestima. É difícil lidar com os limites, conhecê-los e respeitá-los, mas é preciso aceitá-los e viver com eles para ter uma vida mais equilibrada. Na alimentação como no resto da vida, é no equilíbrio que está a chave para o sucesso e felicidade.
Mas é tão urgente alertar para esse equilíbrio quanto apoiar quem já está afetado por esta problemática, revertendo o quadro clínico, físico e mental. Sim, mental, porque o impacto psicológico nestas pessoas é marcante. O estigma associado aos gordos, o olhar de lado, o fechar portas para empregos, o apontar de dedos são “facadas” para estes pacientes, capazes de deixar feridas profundas e muitas vezes irreversíveis. Como se já não lhes bastasse o facto de terem de viver com a sua imagem deformada, os problemas de saúde que advêm da obesidade (hipertensão, diabetes, uma série de doenças cardiovasculares e metabólicas, problemas de circulação, nos ossos, etc), as dificuldades de relacionamento (quer a nível social como a nível sexual), os sonhos adiados e a vergonha. Tantas vezes a vergonha, resultando em isolamento, em apatia e até em depressões profundas que se arrastam por décadas.
Uma dieta saudável e exercício físico são sempre tópicos recomendados – claro –, mas na maioria das vezes insuficientes. Em casos de obesidade severa ou mórbida, a cirurgia bariátrica é, muitas vezes, a única capaz de parar o problema, reduzindo o estômago ou alterando o intestino e, consequentemente, diminuindo a comida ingerida e/ou absorvida. Mas depois vem todo o processo de emagrecimento, o ver a flacidez a aumentar, as peles penduradas. E quanto mais peso perdem, maior o impacto visual – pela positiva (a perda de volume) e pela negativa (excesso de pele). Com isso, continuam a não conseguir vestir as roupas que desejam, continuam a não conseguir enfrentar o espelho e muito menos o parceiro. A perda de peso só por si não é suficiente para trazer de volta o bem-estar necessário, a vida sexual, a autoestima, o tal equilíbrio na vida familiar e profissional. É a cirurgia estética o passo seguinte. Mas quando fazê-la?
A cirurgia estética só é recomendada quando o paciente já atingiu a perda de peso desejada e mantém um peso estável durante pelo menos três a seis meses, o que deverá acontecer cerca de um ano a um ano e meio depois da cirurgia bariátrica (e o mesmo se coloca para casos de grande perda de peso sem cirurgia). Em casos de recém-mamãs, a cirurgia só é recomendável seis meses após o término da amamentação, já que nesse período o corpo pode ainda sofrer algumas alterações.
Esta cirurgia vai – e tem de ir – muito além de retirar o excesso de pele. É uma remodelação total do corpo, que, dependendo dos casos, pode significar também a remoção complementar de depósitos de gordura, reposicionamento de zonas do corpo “caídas”, recuperação de perdas de volume em zonas como a face ou nádegas. Ou seja, todo o corpo é passível de ser intervencionado, numa transformação total, desde cara, pescoço, braços, mamas, barriga, coxas, pernas e glúteo. Claro que cada caso é um caso e que as perdas de peso se refletem de forma diferente nos diferentes corpos, de acordo com a sua genética, tipo corporal, a alimentação e com o exercício que fazem. É, por isso, necessário um plano totalmente personalizado, para que sejam conseguidos os resultados desejáveis para cada caso. Por vezes, pode ser intervencionada apenas a zona superior do corpo. Outras vezes, a zona inferior. Tudo tem de ser pensado em conjunto, entre médico e paciente, conforme os objetivos a atingir, a disponibilidade física e emocional do doente e mesmo a sua saúde. O mais importante é que o doente se sinta confortável com cada passo que dá e que cada passo seja dado em segurança.
Alguns casos necessitam de tratar todas as áreas, outros precisam de corrigir apenas uma ou duas. Com frequência associamos a cirurgia da mama (lift ou redução) à correção do excesso de tecido pendurado nos braços (braquiplastia). O abdómen, pode ser corrigido isoladamente (abdominoplastia) ou ao mesmo tempo que a zona glútea e lateral das coxas (bodylift circunferencial). O interior das coxas é, frequentemente, uma área a tratar através da remoção do excesso de tecido na zona da virilha (cruroplastia). Além do corpo, a face e o pescoço também podem sofrer alterações associadas à grande perda de peso, levando a queda dos tecidos e consequente envelhecimento precoce. Nestes casos, o lift cervicofacial será a solução para reposicionar os tecidos numa posição mais elevada da face e remover o excesso de pele do pescoço.
A recuperação pode demorar um pouco, cerca de duas a quatro semanas, conforme as zonas intervencionadas. Mas valerá totalmente a pena. Normalmente, as intervenções deverão ser espaçadas entre seis a nove meses.
É um processo que exige coragem – é certo –, já que pede uma total entrega, tempo, resiliência. Mas o único realmente capaz de devolver a vida às pessoas, com resultados muito positivos. Dizem-no os rostos sorridentes que regressam ao meu consultório depois de saradas as cicatrizes. E é incrível essa mudança, que mais do que expressa no corpo vem expressa na atitude, na confiança.